domingo, 23 de junho de 2013

Um texto que guardei da faculdade:

EIROS

A leitora Elza Marques Marins me escreve uma carta divertida estranhando que “brasileiro” seja o único adjetivo pátrio conhecido terminado em “eiro” que, segundo ela, é um sufixo pouco nobre. Existem suecos, ingleses e brasileiros, como existem médicos, terapeutas e curandeiros. As profissões de lixeiro, coveiro e carcereiro podem ser respeitáveis, mas o “eiro” é sinal de que elas não têm status. É a diferença entre jornalista e jornaleiro ou entre músico ou musicista e roqueiro, timbaleiro ou seresteiro. Há o importador e há o muambeiro. “Se você começou como padeiro, açogueiro ou carvoeiro” – escreve Elza – “as chances são mínimas de acabar como advogado, empresário, grande investidor ou latifundiário, a não ser que se dê o trabalho de ser político antes”. Aliás, há políticos e politiqueiros. Continua Elza: “Eu nunca vou chegar a colunável ou socialiate se comecei como faxineira ou copeira. Você pode ser católico, protestante, maometano, budista ou oportunista ou então macumbeiro.” Mas a leitora nota que o dono do banco é que é banqueiro enquanto o funcionário é bancário, no que talvez seja um julgamento inconsciente de caráter feito pela língua.

Elza – que, por sinal, se considerava uma harpeira até começar a tocar numa sinfônica e virar harpista – me sugere uma campanha nacional para passarmos a nos chamar de “brasilinos, brasileses, brasilenses, brasilianos, brasilitanos, brasilitas, brasileus, brasilotos ou brasilões”, o que aumentaria muito nossa auto-estima e nossas chances de chegar ao mundo maravilhoso dos americanos, belgas e monegascos.

Luiz Fernando Verissimo (Jornal do Brasil, 7/10/1995, p. 9)

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